Cuidar da saúde mental também é coisa de homem

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O chamado “Novembro Azul” é o mês dedicado à importância da conscientização sobre a saúde do homem. A campanha que é realizada neste mês, teve início em 2011 pelo Instituto ‘Lado a Lado pela Vida’, tendo como objetivo, alertar a comunidade sobre a importância do cuidado e diagnóstico precoce do câncer de próstata, que é o mais frequente depois do câncer de pele, entre os homens brasileiros.

Mas as ações que são realizadas no mês de novembro buscam também alertar sobre a saúde do homem como um todo. Neste artigo, conversaremos sobre um aspecto da saúde masculina que é essencial, mas por vezes é relegado a segundo plano, ou ainda, mais grave, não é dada a importância que merece.

De acordo com o último Censo Demográfico do IBGE, existem no País aproximadamente 202,7 milhões de pessoas. Destas, 48,7% (99 milhões) formam a população masculina. Os homens vivem em média, sete anos e meio a menos que as mulheres. E um aspecto relevante nesta estatística, é a falta de cuidado com a própria saúde.

Segundo a ‘Política Nacional de Saúde do Homem’ (PNSH), o foco da atenção à saúde masculina trabalhado dentro da proposta de Atenção Integral à Saúde do Homem, especifica cinco eixos prioritários: acesso e acolhimento; paternidade e cuidado; doenças prevalentes na população masculina; prevenção de violência e acidentes; saúde sexual e reprodutiva.

E o que leva os homens a deixarem de cuidar da própria saúde? Vamos buscar compreender como funciona a dinâmica de vida masculina, em que chegam a postergar ou até mesmo a esquecer do autocuidado com a saúde.

Tem-se como hábito cultural, que a tarefa do cuidar é predominantemente feminina. Desta forma, quando as mulheres tem algum indicativo de que sua saúde apresenta problemas, tão logo possível buscam atendimento especializado.

Já o homem, seguindo também um padrão adquirido culturalmente, nomeia outras prioridades para sua vida, como por exemplo, as questões relacionadas ao trabalho e a preocupação com o físico. A observação sobre sua saúde, quando se percebe que precisa de maior atenção, muitas vezes acaba vindo por parte de alguém que convive com ele. A dificuldade de se expor como pessoa que precisa do cuidado de terceiros, a falta de viabilidade de acesso aos serviços e unidades voltadas especificamente para a saúde do homem, são também motivos pelos quais há pouca procura aos serviços de saúde.

Seguindo este mesmo padrão aqui observado, é notório que a procura por atendimento terapêutico em consultórios de psicologia é feito na grande maioria por mulheres. Um dos principais motivos é que os homens demonstram resistência em buscar ajuda psicológica, principalmente em conversar sobre os próprios sentimentos. Acreditam ainda que essa exposição de seus problemas valida um sinal de fraqueza. Observando-se este fato, torna-se significativo discutir sobre a saúde mental do homem. Várias são as razões que indicam a relevância deste cuidado, num cenário de aumento de sintomas de patologias de cunho psicológico a nível mundial.

A ansiedade, depressão e suicídio requerem cuidados, podendo acometer ambos os sexos. Porém estatísticas como a taxa de suicídio, que se apresenta em maior frequência no sexo masculino — a média global é de 15 homens para 8 mulheres por 100 mil habitantes, acendem um alerta para a busca de atendimento especializado.

O que leva o homem a apresentar um desequilíbrio psicológico e não buscar atendimento especializado?

Existem fatores genéticos, que associados a alterações neuroquímicas e também estressores ambientais, que causam desequilíbrios mentais. Dependendo da idade e da fase em que o homem está vivendo, bem como as exigências enfrentadas, as psicopatologias podem se manifestar em maior ou menor intensidade.  Assim sendo, a busca por estabilidade financeira, a pressão na rotina do trabalho, os compromissos familiares, podem desencadear ansiedade, insatisfação e frustração, levando a um desequilíbrio psicológico.

Infelizmente ainda existe a crença de que “homens fortes não choram”. Como resultado dessa percepção errônea, as emoções tornam-se contidas e ocorrem situações em que prejudicam não somente a si, mas também quem convive com ele, como seus colegas de trabalho e principalmente sua família. Outro fator preocupante neste aspecto, é que para esconderem alguns sintomas graves, buscam válvulas de escape, como o consumo exagerado de alimentos, de álcool e de drogas.

De forma é possível resgatar a saúde emocional, levando a uma melhor qualidade de vida?

A Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, num estudo tido como o mais longevo sobre a saúde adulta, monitorou e analisou por 76 anos o estado mental, físico e emocional de 700 indivíduos do sexo masculino. Este estudo chegou a várias conclusões relevantes, que observadas, contribuem com uma melhor qualidade de vida (aqui, sob o aspecto emocional).

  • Observar a qualidade dos relacionamentos. Uma relação de qualidade refere-se àquela onde o indivíduo se sente seguro em ser autêntico.
  • A importância do autoconhecimento. Saber o que o faz feliz e buscar na rotina momentos de felicidade.
  • Exteriorizar os sentimentos, buscando ajuda especializada, se não houver quem o ajude nesta questão.

Por fim, é significativo também para o homem compreender a importância de realizar terapia com um profissional da Psicologia, buscando conscientizar-se de que o Psicólogo trabalha sob princípios éticos e possui todo o conhecimento e embasamento teórico necessário para realizar o tratamento mais indicado, dentro da abordagem que trabalha. Desta forma é possível reestruturar sua saúde psicológica e emocional, colaborando para uma melhor qualidade de vida, que não beneficia somente a si, mas a todos com quem o homem convive.

Referências

Campos, Ioneide de Oliveira, Walter Massa Ramalho, and Valeska Zanello. “Mental and gender health: The sociodemographic profile of patients in psychosocial attention center.” Estudos de Psicologia (Natal) 22.1 (2017): 68-77.

Política Nacional de Saúde do Homem

Queiroz, Iasmim Belém Silva, et al. “Abordagens de sexualidade e gênero na saúde do homem: uma revisão integrativa.” Revista Eletrônica Acervo Saúde 43 (2020): e3000-e3000.

Romeu Gomes; Elaine Ferreira do Nascimento; Fábio Carvalho de Araújo.  Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 23(3):565-574, mar, 2007 Instituto Fernandes Figueira, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, Brasil

Silvana Farias Speltz

Silvana Farias Speltz é Psicóloga, graduada em Joinville - SC, pela Faculdade Guilherme Guimbala. Formada também em Administração de Empresas, pela Universidade Positivo e em Pedagogia, pela Universidade Luterana do Brasil, especializando-se em Educação Especial, trabalhando por 15 anos em educação. Atualmente, é pós graduanda em TCC - Teoria Cognitivo-Comportamental. Na Psicologia, atende crianças, adolescentes e adultos, buscando identificar e tratar as questões que os pacientes apresentam e que refletem no comportamento, de modo a ressignificar situações e vivências, melhorando a sua qualidade de vida. CRP 08/36478 Contato: (42) 99115-2345

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