A falta de chuvas em algumas regiões do sul do Brasil já levanta receios sobre a safra de soja 2018/19 do país, e a perda de potencial produtivo passa a ser considerada caso tais condições climáticas permaneçam ao longo da próxima semana, disseram especialistas à Reuters nesta sexta-feira.
Por ora, a avaliação é de que as adversidades não revertem o cenário de uma colheita recorde, só que o volume final pode ficar aquém do que se esperava.
“Teria um potencial máximo de 127 milhões de toneladas, uma coisa extraordinária (dentro das melhores condições). Mas isso a gente não vai ter, está totalmente fora de cogitação”, afirmou o sócio-diretor da Rural Clima, o agrometeorologista Marco Antonio dos Santos.
Uma pesquisa da Reuters com 13 consultorias e entidades apontou em 30 de novembro uma safra de 120,76 milhões de toneladas, o que seria um novo recorde, superando a marca do último ciclo de 119,28 milhões de toneladas. Mas alguns analistas chegaram a citar potencial entre 129 milhões e 130 milhões de toneladas.
“Então (agora) daria 124 milhões (na melhor das hipóteses). Ficaria acima de 122 milhões, mas acho que não teremos aqueles recordes de produtividade, como tivemos na última safra”, acrescentou Santos.
A consultoria AgRural relatou também nesta sexta-feira que sojicultores do Paraná e de Mato Grosso do Sul devem ficar em alerta quanto ao tempo seco na próxima semana.
“Não temos nenhum relato efetivo de problema. Até esta semana, as lavouras estão se desenvolvendo bem, porque ainda há boa umidade no solo. O problema é que para semana que vem vai continuar seco, com Mato Grosso do Sul tendo altas temperaturas. Sem chuvas, isso pode prejudicar um pouco”, afirmou a Alaíde Ziemmer, analista da AgRural.
De acordo com ela, parte considerável das lavouras não dispõe de um sistema radicular profundo, o que agravaria a situação diante de uma escassez de água. Isso se deve ao fato de a soja ter sido implantada em um momento de excesso de umidade, que levou as raízes a se desenvolverem mais superficialmente.
“Algumas áreas pontuais podem ter problemas no curto prazo, mas precisa se estender para termos danos mais significativos”, destacou.
Nos últimas 15 dias, as chuvas ficaram abaixo da média em praticamente todo o Estado do Paraná e em parte de Mato Grosso do Sul, enquanto Mato Grosso ainda foi beneficiado pelas precipitações, com a região nordeste recebendo 64,9 mm acima do normal para esta época do ano.
MENOS CHUVAS
A produção no maior exportador global da oleaginosa seria impulsionada em 2018/19 pelo crescimento esperado de quase 3 por cento na área plantada.
“Não vai ter quebra de produção, apenas uma redução no potencial produtivo, isso não chega a ser quebra, tem seca na metade sul, excesso de chuva na metade norte. Uma lavoura com potencial para 80 sacas (por hectare), cair para 70 sacas, isso não é uma quebra, mas também não é o potencial…”, disse Santos, da Rural Clima, observando que 70 sacas representam uma boa produtividade.
Segundo o agrometeorologista, uma massa de ar seca e quente está sobre a metade sul do Brasil, impedindo a formação de nuvens. Com isso, o tempo seguirá firme e sem previsões de chuvas ao longo dos próximos cinco dias, disse ele.
“Ou seja, até meados da semana que vem, não há previsão de que venham ocorrer chuvas sobre as áreas produtoras do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul e de São Paulo. Assim, em muitas localidades a ausência de chuvas chegará a mais de 15 dias, agravando as condições das lavouras e gerando algumas perdas regionalizadas.”
Ainda segundo os mapas meteorológicos, após o dia 15 de dezembro, a previsão é que as chuvas fiquem mais concentradas sobre a metade sul do Brasil, sendo mais frequentes e em maiores volumes, ajudando na recuperação das lavouras.
“Porém, mesmo com a estabilização do regime das chuvas na segunda quinzena de dezembro, haverá redução no potencial produtivo, pois muitas estão em fase de enchimento de grãos (neste momento de seca).”
“Caso volte a chover, voltaria mais ou menos para a normalidade. Mas tem um problema: será que vai chover para todo mundo na mesma quantidade? Não estou confiando que essa chuva vai ser para todo mundo”, completou.
De acordo com dados meteorológicos do Agriculture Weather Dashboard, do Refinitiv Eikon, várias áreas produtoras terão chuvas abaixo da média do dia 7 até o dia 22 de dezembro, especialmente em Mato Grosso, o maior produtor da oleaginosa do Brasil.
O dados apontam que o sul de Mato Grosso terá 60,2 milímetros de chuva a menos em relação à média. Outras regiões também: sudeste de Mato Grosso (-45,3 mm), sudoeste de Mato Grosso (-37,5 mm), nordeste de Mato Grosso (-14,2 mm), norte de Goiás (-10,7 mm), leste de Mato Grosso do Sul (-3,9 mm).
No Paraná, as chuvas nas próximas duas semanas serão mais fracas em algumas partes, como no centro-norte (-13,9 mm ante a média), enquanto em outras serão mais generosas, como no oeste (+77,2 mm).