No Paraná, aposentado cria sacos de dormir térmicos para pessoas em situação de rua

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Foi passando uma noite inteira sentindo frio que Newton Fernandes, de 62 anos, teve a ideia de usar caixas de leite para criar sacos de dormir para aquecer pessoas em situação de rua.

Morador de Guarapuava, na região central do Paraná, o torneiro mecânico decidiu usar o tempo livre da aposentadoria para produzir e doar os itens. A cidade, que fica no Terceiro Planalto Paranaense e é uma das mais frias do estado, é conhecida pelas geadas, ventos constantes e pelas baixas temperaturas devido a sua altitude.

As caixas usadas por Newton são devidamente higienizadas e costuradas umas às outras para provocar isolamento térmico. O conceito de física, neste caso, leva em conta que o alumínio e o papelão das embalagens dificultam a perda de calor do corpo, enquanto que o alumínio e o plástico que reveste as caixas funcionam como impermeabilizantes.

O profissional trabalhou por mais de 33 anos em uma cooperativa agroindustrial na função relacionada ao molde de peças. Quando se aposentou, em setembro de 2022, passou a “moldar” os sacos de dormir por conta própria, de forma voluntária.

Antigamente, ele viajava fotografando rodeios e dormia em colchões de ar, em acampamentos. Como eles não eram suficientes nas noites mais frias, o homem começou a usar isolantes térmicos feitos de E.V.A. e alumínio – e percebeu que poderia fazer o bem unindo a solidariedade à sustentabilidade e ao baixo custo.

“Começamos a colocar o isolante sobre o colchão e aí me veio a ideia da caixa de leite: é um material descartável, que todo mundo joga fora, mas que é um ‘lixo de luxo’, porque pode ser aproveitado não só nesse caso. Existe um programa também, chamado Brasil sem Frestas, que utiliza caixas de leite para tapar frestas das casas”, lembra.

Os sacos de dormir feitos por Newton medem 1,07 metro de largura por 2,10 metros de comprimento. Para cada um são necessárias, em média, 80 caixas de leite.

Ele recebe as embalagens de familiares e amigos. Para a costura, usa uma máquina que era da cunhada.

Os sacos de dormir feitos pelo aposentado também contam com uma fita plástica que permite que as pessoas em situação de rua possam enrolá-los e carregá-los através de alças. O material foi fruto de doação de uma empresa da cidade.

A casa em que o filho morava nos fundos da residência de Newton e da esposa foi adaptada e é usada como o ateliê de produção do homem.

O desejo dele é que o projeto seja expandido não só em Guarapuava, mas também em outras cidades do Paraná e do país. Ele afirma que chegou a contatar entidades e órgãos públicos para ampliar a produção, mas conta que não conseguiu fechar nenhuma parceria.

“Se você vestir uma blusa de lã e ela passar o vento frio, você não se aquece. Mas, se usar uma roupa que não deixe passar o frio, o teu corpo produz o calor e a roupa mantém o corpo aquecido. […] É terrível quando a gente fica com frio, o tempo não passa. E é complicado pra uma pessoa ficar na rua e não ter como se agasalhar”, conta.

Newton Fernandes lembra que teve a ideia na época em que ainda era industriário, mas não tinha tempo para começar a colocá-la em prática. Ele começou a juntar caixas de leite e, quando se aposentou, decidiu iniciar o projeto.

O homem aprendeu a costurar e foi testando formas diferentes de montagem para testar qual ficaria melhor. Agora, com a técnica aperfeiçoada, ele produz os sacos de dormir para doar nas ruas conforme consegue, já que faz toda a montagem sozinho.

“Fui trabalhando aos poucos, sofrendo, porque nunca tinha sentado na frente de uma máquina de costura. Fui fazendo, até que hoje já costuro bem os sacos de dormir, mas os primeiros foram de um modelo diferente. A maneira que eu costurei ficou muito ruim para manusear. Agora não; já peguei uma maneira mais prática de fazer a costura, que fica rápida, fácil e não dá muito trabalho na montagem das peças”, conta.

Fonte – G1.

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