O assunto que vamos conversar hoje, diz respeito a uma demanda que vem crescendo muito nos últimos anos, levando à grande procura aos consultórios de psicologia… A ansiedade.
Para compreendermos porque isso vem acontecendo, é importante sabermos em primeiro lugar, o que significa ansiedade.
Ansiedade é o termo usado para se referir a um sentimento de angústia, medo, apreensão, tensão ou ainda, quando o indivíduo se encontra frente a uma situação desconhecida ou estranha, não conseguindo raciocinar sobre como tomar uma decisão. A palavra ansiedade pode ser ligada à várias afirmações como por exemplo, aflição, angústia, medo e sentimentos em relação a um contexto de perigo ou perturbação do espírito causada pela incerteza.
Se apresenta principalmente pela preocupação intensa, excessiva e persistente, acompanhada do medo de situações cotidianas ou em relação ao futuro. De acordo com a Organização Pan Americana da Saúde, os distúrbios relacionados à ansiedade afetam 9,3% (cerca de 18.658.000) das pessoas que vivem no Brasil. Não há idade para a ansiedade se manifestar, podendo ocorrer desde em crianças até idosos.
A ansiedade geralmente é acompanhada de sintomas físicos como taquicardia (batimentos cardíacos acelerados), choro intenso aparentemente sem motivo, dificuldade de respirar, boca seca, sensação de cansaço, sudorese (suor excessivo), diarreia, irregularidade do sono e tensão muscular. Há também os sintomas psíquicos, como irritabilidade, inquietação, medo, apreensão, insegurança e dificuldade de concentração, entre outros.
É importante entender que a ansiedade é algo que faz parte da vida de todas as pessoas, ou seja, ela tende a se apresentar dentro de uma normalidade. No entanto, quando os sentimentos relacionados a ela se tornam obsessivos e acabam interferindo na vida cotidiana, passa a ser compreendido como um caso patológico, ou seja, indicador de doença.
A ansiedade tida como patologia, está descrita no MANUAL DIAGNÓSTICO E ESTATÍSTICO DE TRANSTORNOS MENTAIS DSM-5® sob o código “300.02 (F41.1)”, como “Transtorno de Ansiedade Generalizada” (TAG). Para realizar corretamente o diagnóstico de TAG, é necessário observar os critérios diagnósticos que estão descritos no referido manual, assim como as características, fatores de risco e comorbidades (doenças associadas) entre outros.
Quando um paciente busca tratamento para a ansiedade, ocorre a investigação dos sintomas manifestados, segundo o DSM-5®. Descrevo abaixo na íntegra, os critérios diagnósticos de TAG, por considerar de extrema importância o seu conhecimento e reconhecimento, caso o leitor/a identifique-se com algum destes e possa assim, buscar ajuda para tratamento:
“A. Ansiedade e preocupação excessivas (expectativa apreensiva), ocorrendo na maioria dos dias por pelo menos seis meses, com diversos eventos ou atividades (tais como desempenho escolar ou profissional).
- O indivíduo considera difícil controlar a preocupação.
- A ansiedade e a preocupação estão associadas com três (ou mais) dos seguintes seis sintomas (com pelo menos alguns deles presentes na maioria dos dias nos últimos seis meses).
Nota: Apenas um item é exigido para crianças.
- Inquietação ou sensação de estar com os nervos à flor da pele.
- Fatigabilidade.
- Dificuldade em concentrar-se ou sensações de “branco” na mente.
- Irritabilidade.
- Tensão muscular.
- Perturbação do sono (dificuldade em conciliar ou manter o sono, ou sono insatisfatório e inquieto).
- A ansiedade, a preocupação ou os sintomas físicos causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo.
- A perturbação não se deve aos efeitos fisiológicos de uma substância (p. ex., droga de abuso, medicamento) ou a outra condição médica (p. ex., hipertireoidismo).
- A perturbação não é mais bem explicada por outro transtorno mental (p. ex., ansiedade ou preocupação quanto a ter ataques de pânico no transtorno de pânico, avaliação negativa no transtorno de ansiedade social [fobia social], contaminação ou outras obsessões no transtorno obsessivo-compulsivo, separação das figuras de apego no transtorno de ansiedade de separação, lembranças de eventos traumáticos no transtorno de estresse pós-traumático, ganho de peso na anorexia nervosa, queixas físicas no transtorno de sintomas somáticos, percepção de problemas na aparência no transtorno dismórfico corporal, ter uma doença séria no transtorno de ansiedade de doença ou o conteúdo de crenças delirantes na esquizofrenia ou transtorno delirante)..”
A ansiedade, quando não se trata de um transtorno, pode ser compreendida como algo que em alguns momentos torna-se benéfico, como por exemplo, quando é preciso se organizar para uma prova ou viagem, tomando-se os cuidados necessários para que tudo dê certo. Numa situação contrária, acaba sendo prejudicial, como não conseguir realizar uma prova, por chorar intensamente e assim, prejudicar o ato de estudar.
Estes opostos se apresentam com variação em relação às circunstâncias ou intensidade. O fator patológico da ansiedade refere-se ao prejuízo que pode causar ao nosso funcionamento psíquico (mental) e somático (corporal). A ansiedade benéfica estimula o indivíduo a entrar em ação, o que é importante para realizarmos coisas. Porém, em excesso, faz exatamente o contrário, impedindo reações e a pessoa fica como que “paralisada”, sem saber que ação tomar, caracterizando-se então, como transtorno.
A sensação de ansiedade pode ser tão impactante que, muitas vezes para evitá-la, deixa-se de realizar atividades, mesmo as prazerosas em virtude do desconforto que ocasiona.
Os fatores de risco que contribuem para o surgimento da ansiedade, são multifatoriais, ou seja, podem envolver tanto fatores genéticos (familiares com ansiedade), quanto neurobiológicos ou ambientais (fatos estressantes passados durante a vida, como doenças, perdas, abusos, violências, traumas na infância). O uso de algumas substâncias, como drogas lícitas ou ilícitas ou mesmo medicamentos sem orientação médica, podem também causar ansiedade.
Quanto ao tratamento…
São três os tratamentos usuais para os transtornos de ansiedade:
– Medicamentos, com prescrição realizada por psiquiatra e retenção de receita médica (os medicamentos devem ser tomados de maneira rigorosa, seguindo a quantidade e os horários estabelecidos pelo médico e jamais deixar de tomá-los por conta própria);
– Psicoterapia com Psicólogo;
– Combinação dos dois tratamentos (medicamentos e psicoterapia).
O tratamento Psicoterápico realizado dentro da abordagem TCC – Teoria Cognitivo-Comportamental – visa diminuir os sintomas, usando métodos específicos como reprogramação mental e técnicas de respiração e relaxamento, ajudando o paciente a perceber e enfrentar as raízes e gatilhos de seu quadro de ansiedade, aprendendo a lidar com eles, de forma que tenha uma melhor qualidade de vida.
Durante o tratamento, um número expressivo de pacientes começa a sentir-se melhor, retomando suas atividades depois de algumas semanas. Este fato demonstra a importância, na procura por ajuda especializada. Quando há o diagnóstico preciso e precoce, o tratamento passa a ser eficaz. Também o acompanhamento realizado por um prazo longo, torna-se imprescindível para que hajam bons resultados e menores prejuízos na vida do paciente.
Referências:
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Secretaria da Saúde de Curitiba. Biblioteca Virtual em Saúde MINISTÉRIO DA SAÚDE