Podemos considerar a infância como uma etapa fundamental na vida de toda pessoa. É neste período que se inicia o desenvolvimento físico, afetivo, emocional e intelectual do ser humano. Aqui, vamos falar sobre o desenvolvimento emocional da criança e a importância desta fase, para a formação do indivíduo como um todo.
Mais especificamente no período que compreende o nascimento ao 6º ano de vida, ou seja, a primeira infância, é que o início do desenvolvimento emocional infantil acontece. Assim sendo, os pais ou cuidadores, tem papel fundamental em proporcionar que as necessidades de cuidado, carinho, afeto, acolhimento e proteção que a criança tem, sejam respeitadas e garantidas.
O desenvolvimento emocional infantil é constituído por habilidades que são adquiridas com as vivências, exemplos e experienciações, tendo como resultado, a forma como serão os comportamentos, o controle e a expressão em relação aos sentimentos futuros. As evidências e estudos mostram que oportunizar uma infância segura no ambiente em que se vive, manter um relacionamento saudável com familiares e cuidadores (e estes entre si) tem uma influência primordial na vida da criança.
Como exemplo, podemos considerar que uma criança que é criticada em excesso, vítima de maus tratos ou que vivencia uma infância sem cuidados, no decorrer de sua vida apresentará maior probabilidade de tornar-se uma pessoa com baixa autoestima, insegura, negativista, com relacionamentos frustrantes e até mesmo agressiva. Ao contrário desse exemplo, uma criança que vivenciou boas experiências, com todo cuidado necessário, tem grandes chances de crescer segura, com elevada autoestima, valores éticos e morais, respeitando o próximo e a si mesmo.
Então, sabendo disso, como os pais e cuidadores podem proceder para que suas crianças se desenvolvam e cresçam emocionalmente saudáveis?
Naturalmente as crianças apresentam a tendência de manterem um vínculo com as pessoas com quem convivem. Desta forma, as posturas, atos, palavras e comportamentos dos adultos habitualmente são copiados. Pais consumistas, violentos entre si, apegados excessivamente às tecnologias, desorganizados em relação à sua casa e seus pertences, terão grande probabilidade de que seus filhos sejam tal como eles.
O livro “Eduque com carinho…”, da Psicóloga Dra Lídia Weber, traz doze princípios, mostrando que a educação deve ser entendida como uma parceria entre pais/cuidadores e a criança. O objetivo da obra é orientar os adultos na difícil, mas fundamental tarefa de educar, de forma que compreendam que quanto mais seguros e participativos forem, maiores as perspectivas da criança se tornar autoconfiante, responsável, autônoma, afetiva e emocionalmente saudável. A seguir, farei um breve relato sobre os doze princípios para uma educação positiva, segundo a autora.
Princípio 1 – Amor incondicional:
O amor incondicional independe do comportamento da pessoa. Ama-se por ser quem ela é e não pelos seus acertos ou apesar de seus erros. Ama-se também quando se permite que a pessoa possa ser quem ela é, sem interferências sobre sua forma de ser. E isto ultrapassa o afeto e carinho que se possa demonstrar. Quanto mais amor a criança recebe, melhor aceitará regras, diretrizes e será capaz de desenvolver amor e compaixão por outras pessoas.
Princípio 2 – Conhecer os princípios do comportamento:
São três os fatores que influenciam o nosso comportamento: a herança genética e todos os comportamentos que temos como uma espécie; a aprendizagem que vivenciamos a partir do momento em que nascemos (nossa história de vida) e as influências culturais presentes em cada sociedade em que se vive. Ou seja, as variáveis neurobiológicas são importantes, mas o ambiente também influencia o comportamento das pessoas. Desta forma é importante saber que a forma como se educa os filhos, também trazem efeitos impressionantes no comportamento futuro.
Princípio 3 – Conhecer o desenvolvimento de uma criança:
É importante compreender que os papéis de mãe e de pai precisam se moldar às diferentes idades da criança. E perceber que algumas questões que fazem parte da idade do filho, facilita evitar confrontos futuros. A cada fase, em cada etapa da vida, os comportamentos mudam e se os pais conhecerem sobre o assunto, mais facilmente passarão por estas etapas, sem maiores dificuldades que muitas vezes são comuns ao período vivido.
Princípio 4 – Autoconhecimento:
O autoconhecimento é fundamental, essencial para o bem viver. Quando nos conhecemos, sabemos o que nos deixa alegres, tristes ou irritados. Também percebemos porque tomamos algumas atitudes e não outras, por exemplo. Quando o pai/mãe conhece a si mesmo, passa a ter consciência de suas características individuais e fica mais fácil não colocar suas expectativas acerca de seus filhos.
Princípio 5 – Comunicação positiva:
Quando uma pessoa consegue se comunicar, se expressar, ela consegue esclarecer os seus desejos, compartilhar sentimentos e expressar emoções. Se a comunicação é bem feita, evita-se sentidos duplos nas palavras e a transmissão do que se deseja falar, é compreendida. Com a comunicação adequada consegue-se reforçar a obediência e não ignorar a não obediência.
Princípio 6 – Envolvimento:
É importante e saudável envolver-se e participar da vida do filho, sem, no entanto ser intrusivo. Aceitar e respeitar as escolhas do filho é não ser um pai intrusivo. Um dos fatores mais importantes de proteção na vida dos filhos, são pais que se envolvam em suas atividades, acompanhando-os, mas sem no entanto, influenciarem negativamente no seu modo de ser e em suas conquistas ou derrotas.
Princípio 7 – Usar consequências positivas: reforçar, elogiar, valorizar:
Sabe-se que é muito mais fácil destacarmos um ponto negativo sobre o outro ou sobre nós mesmos. Os pais não fogem à regra e prestam mais atenção nos filhos quando eles fazem algo de errado. Mas é preciso lembrar que os elogios, reforços positivos, a valorização do que é feito corretamente, tem o mesmo efeito para a mente, que as vitaminas têm para o corpo: em doses corretas, aumentam a autoestima e o otimismo, pois a criança aprende que o que ela faz tem valor, sentindo-se capaz, mais competente para atuar no mundo. Diminui a ocorrência de comportamentos inadequados que existiam “para chamar a atenção”. Promove um melhor relacionamento entre pais e filhos. Estes se sentirão mais amados, queridos e admirados.
Princípio 8 – Apresentar regras e supervisionar o comportamento:
As crianças precisam de limites e regras para aprender o que é permitido ou não é possível fazer. Disciplinar é mostrar as fronteiras entre o certo e o errado, os valores, os limites. E dentro do contexto familiar, valores, regras e limites são decididos pela família, assim como um contrato. Para que a criança possa compreender mais facilmente, as regras têm que ser claras, justas e devem ter supervisão e monitoria dos pais. É importante explicar o motivo para uma regra, mas brevemente, de acordo com a idade da criança.
Princípio 9 – Ser consistente:
A consistência é muito importante por parte dos pais, e traz consequências positivas para que a criança aprenda com eles sobre o “sim ser sim e o não ser não”, mesmo após muita insistência. Se os pais prometem, devem cumprir o que dizem. Ameaças não cumpridas perdem a razão de ser. Em alguns casos, no entanto, deve-se ensinar lógica e mostrar que é possível reformular uma regra, se existem justificativas sérias para tal.
Princípio 10 – Não usar punição corporal, mas consequências lógicas:
Há nem tanto tempo atrás, as crianças eram punidas por qualquer comportamento de desobediência a seus pais. E infelizmente ainda hoje ocorrem muitos episódios de violência contra a criança. Uma boa conversa, olhando na altura dos olhos, falando-se com calma, explicando de forma que se possa compreender, tem efeitos muito mais positivos para as crianças e com certeza elas apreendem de forma correta o que é certo ou não.
Princípio 11 – Ser um modelo moral:
Os pais precisam se atentar aos seus próprios comportamentos, pois estão sempre sendo observados pelos filhos. Não devem se comportar então, de uma maneira que reprovariam em seus filhos. Para um a criança pequena, é natural imitar as pessoas mais próximas, é uma forma de aprendizado.
Princípio 12 – Educar para a autonomia:
O 12° princípio abarca tudo o que os outros princípios trouxeram e que educam para a autonomia: mostrar amor incondicional, participação, comunicação positiva, ter envolvimento, usar consequências positivas (reforçar, elogiar, valorizar), apresentar regras, ser consistente, não usar punição corporal (mas consequências lógicas, se necessário) e ser um modelo moral. Estar sempre presente, mas deixar a criança encontrar o seu próprio caminho.
Aos pais que tem seus filhos nesta faixa etária, recomendo a leitura desta obra, é de grande valia no processo de educação.
E qual pode ser considerado o papel da Psicologia na educação infantil?
A Psicologia Infantil busca proporcionar um suporte para os pais/cuidadores, no entendimento de quando algo não se apresenta de forma adequada, tanto no processo de educação quanto no crescimento emocional da criança, de forma que seja dirigida para um desenvolvimento saudável em todas as esferas. O trabalho do Psicólogo envolve também as demandas de aconselhamento dos pais/cuidadores, num processo de educação parental, de forma que o contexto do processo terapêutico tenha sua continuidade entre a família, no lar onde vivem.
Referências
MOREIRA, Ivana (coord). Primeira infância: dicas de especialistas para esta etapa que é a base de tudo. Vol. 2. Literare Books. São Paulo, SP. 2021.
MUSTARD JF. EarlHumanDevelopment – Equityfromthe Start – LatinAmerica. Rev Latino Am Cienc Soc Niñez. 2009
SHONKOFF JP, Wood DL, DOBBINS MI, Earls MF, GARNER AS, MCGUINN L, et al. The Lifelong Effects of Early Childhood Adversity and Toxic Stress. Pediatrics. 2012
SOUZA, Juliana Martins de. VERÍSSIMO, Maria de La Ó Ramallo. Rev. Latino-Am. Enfermagem nov-dez 2015;23(6):1097-104 DOI: 10.1590/0104-1169.0462.2654
WEBER, Lídia. Eduque com carinho: equilíbrio entre amor e limites. 6ªed. Curitiba: Juruá, 2017.
Muito bom. Parabéns Silvana
Obrigada! Sempre bom poder ajudar quem precisa!